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Em busca de novos paradigmas

Publicado em 3 de julho de 2025 por

Sabemos agora que não estamos tratando apenas de uma questão de envelhecimento populacional como pensávamos no início do século. Somos todos – quero dizer, a humanidade toda – conscientes dos recursos e limitações deste corpo em que aportamos nossas vidas. Pode ser que tenhamos nos esquecido disso em alguns momentos mais difíceis da nossa jornada evolutiva. Afinal, estamos trabalhando no aprimoramento evolutivo do Homo sapiens há apenas 200 mil anos. Mas, uma coisa aprendemos nesse tempo, qualquer salto de qualidade é rapidamente incorporado por toda espécie. O que está acontecendo é uma transição temporal em nossas vidas. Que vem sendo chamado de “transição para a longevidade humana”.

Esse processo transitivo vem acontecendo de forma muito rápida, o que está se tornando uma característica do nosso tempo para todos os avanços e conquista do gênio humano. O que eu estou chamando por essa expressão, “gênio humano”, é a capacidade que a humanidade vem desenvolvendo de tornar compreensível para todas as pessoas os mais complexos avanços tecnológicos do nosso tempo. Os processos de comunicação entre pessoas distantes, que eram muito demorados há 50 anos, levando até semanas para serem completados, acontecem agora instantaneamente. Uma mãe acaba de desligar pelo celular avisando sua filha que está estacionada na frente da casa de sua amiga para pegá-la e liga imediatamente para a outra filha que está numa universidade na Noruega. Acontecimentos como esse são compreensíveis e realizáveis por qualquer pessoa de nosso tempo. No entanto, a diferença de complexidade tecnológica e de necessidade de capacidade cognitiva, é enorme. Os recursos que realizam essas atividades, agora corriqueiras, são renovados ou substituídos todos os dias. Quando você estiver lendo este artigo, os meios de comunicação que usei para escrevê-lo, poderá ter sido outro. Já não nos incomodamos mais com isso.

O que estamos querendo dizer com isso é que nossa mente, nosso corpo, nossa percepção e nossas relações com as outras pessoas e outras coisas, estão sendo renovado o tempo todo, em tempo real, poderíamos dizer. Não é à toa que estamos num momento em que todas as pessoas reclamam que estão tendo pequenos esquecimentos todos os dias. Nosso cérebro, com seus 86 bilhões de neurônios ligados a todos o nosso sistema neural, vai reformulando nossas percepções e modelos cognitivos e nos adaptando para compreender e não estranhar as novidades.

Nem sempre todas as pessoas reagem da mesma forma com esses novos conhecimentos e a forma de lidar com eles. Mas, concordando ou não, são incorporados aos nossos hábitos e levados em consideração em nossas decisões. Compreendemos que estão incorporados às nossas relações como um paradigma, ou modelo a ser seguido, ou levado em consideração. Nossos conceitos de envelhecimento e como lidar ou cuidar de pessoas envelhecidas são muito antigos e ainda nos representam paradigmas muito antigos em nossa sociedade.

Quanto à longevidade, muita coisa vai mudar, muitos conceitos precisarão ser revistos, mas isso não acontecerá rapidamente, como acontece com os avanços tecnológicos. São práticas de vivências, relações cuidadosas e afetivas que vão sendo modeladas todos os dias. Coisas como os filhos terem que aceitar uma liberdade e independência maior dos pais, pois agora, com a vida mais longa que conquistaram, são mais ativos e cognitivamente mais preparados. Para começar, longevidade não se refere apenas para o tempo final da vida, é para vida toda. Um novo paradigma está sendo formatado.

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